Fazia algum tempo que minha cabeça maléfica e sábia não funcionava tão bem de madrugada. Hoje tô a fim de dormir e não tô afim. Acho que vou ficar escrevendo... se tem uma coisa que eu gosto é de não ter hora pra dormir e nem ter hora pra acordar. Sinto a liberdade, a pequena quantidade de liberdade que tenho na vida.

E se eu falo de liberdade automaticamente eu falo sobre Sonhos.

Um tempo atrás, um amigo meu disse que o que eu escrevia era clichê. Veja bem, eu tinha feito uma música pra minha então paquera, e eu nunca havia conseguido musicar nenhum poema. Não foi a maior obra prima que eu já escrevi, mas eu estava contente o suficiente por tais palavras conterem melodia. E eu fui mostrar orgulhoso a quem eu confiava uma opinião. Quando eu penso sobre frustração eu me lembro desse episódio. Obviamente já aconteceram outras frustrações maiores na minha vida, mas, essa marcou de uma alguma maneira, porque vez ou outra eu lembro a palavra "clichê" sendo dita voltada pra mim. Por um bom tempo ela serviu para travar qualquer linha que eu fosse escrever. Serviu pra tentar modificar o que eu realmente sentia em escrever e passar a escrever tentando agradar aquele amigo que no ponto de vista realmente pequeno dele não era clichê.

Hoje, lembrar que sou clichê, me faz dar um sorriso confortador inevitavelmente quando eu penso em escrever qualquer coisa. Veja bem, tanta gente escreve tanta coisa e ninguém os rotula de nada. Ser rotulado de clichê não deve ser tão ruim assim. Olha ao seu redor... quantas pessoas clichês existem perto de você?Não é muito clichê hoje em dia se dizer cabecista e gostar de músicas do Chico Buarque? Não é super clichê acordar todo dia de manhã e reclamar da própria cara, reclamar que não dormiu, reclamar que tem que acordar, reclamar, reclamar, reclamar. Não é clichê pra caramba, dizer que ficou com 10 na festa e comeu 5 só pra se sair diante dos amigos? E fazer dietas, reclamar do cabelo, da cara, não é clichê?

Sem sair do clichê...

Por muito tempo eu reclamei de ser tão diferente dos outros. Dos meus ideais divergirem dos ideais dos coleguinhas no colégio, quando eles queriam um curso determinado e cheio de estabilidade e eu queria alguma coisa dentro de humanas que eu não sabia muito bem o que porque na verdade eu só pensava em cinco coisas: escrever-cantar-dançar-atuar-desenhar. Será mesmo que ter alma de artista é ser tão diferente assim dos outros?

Pensando bem... é tão clichê!

Mas é tão clichê que soa como sonho infantil, coisa que todo mundo já quis ser um dia mas "cresceu e aí passou". É tãoooo clichê que ninguém dá bola quando você confessa. E aí perguntam "sim mas e fora isso, você quer fazer o que?" 

O que é preciso pra deixar de ser clichê, se é que isso é possível?

Tudo na vida soa repetitivo, desgastado, copiado... uma lista interminável de adjetivos pra se aplicar ao dia-a-dia, aos sonhos, as ações tomadas pela sociedade. Pessoalmente eu acho tão clichê você dedicar a sua vida a ter um emprego qualquer, casar e ter filhos. Mas é comum, não é? E quando eu estava prestes a me aceitar no hall do incomum por fugir desse objetivo de vida... eu vi que o meu objetivo também é absurdamente comum. E a verdade é que ninguém é melhor ou pior que ninguém por isso.

 Rótulos identificam aquilo que está na embalagem, o importante é dispensar o rótulo, abrir a embalagem e conhecer o conteúdo, ainda que hoje em dia seja difícil por existirem tantos rótulos de produtos ruins somente pra chamar sua atenção. Mas não importa...

Porque vida real, o herói no final vence o vilão. E isso...é tão clichê!