Préfacio
Oi gente, este é o Prefácio do meu livro, que apresentarei amanhã como meu Trabalho de conclusão de Curso. Espero que gostem.
Colônia Z-8: Histórias de Pescador
“As velas do Mucuripe vão sair para pescar, vou levar as minhas mágoas pras águas fundas do mar, hoje à noite namorar sem ter medo da saudade, sem vontade de casar”. Para os verdadeiros senhores do mar, os mestres jangadeiros, as velas do Mucuripe não saíram apenas para pescar como canta Fagner, pois as jangadas foram também em busca de reivindicar melhorias e leis que garantissem direitos sociais aos jangadeiros.
O Mucuripe já foi retratado na obra do escritor José de Alencar, bem como suas paisagens foram eternizadas pelo pintor Raimundo Cela e pelas lentes do fotógrafo Chico Albuquerque. Além disso, os jangadeiros tiveram sua história contada para o mundo todo no filme “Its All True” do cineasta americano Orson Wells, na década de 40.
No início do ano de 1500, o espanhol Vicente Pinzón foi o primeiro navegante europeu a chegar ao Brasil no Mucuripe, três meses antes de Pedro Alvares Cabral chegar em Porto Seguro, ou seja, a história do bairro precede à do descobrimento oficial do Brasil.
Outro fato histórico denota que o bairro do Mucuripe tem sabor da liberdade de todos que lutaram contra a opressão e escravidão na terra da luz, uma vez que Francisco José do Nascimento, bravo jangadeiro, em solidariedade aos escravos, fechou o Porto do Mucuripe para o embarque de escravos, assim o Ceará foi a primeira província do Brasil a acabar com escravidão.
O bairro começou a ganhar fama, pois em setembro de 1940, Jacaré, Manuel Preto, Tatá e Jerônimo, jangadeiros da colônia de pescadores, percorreram mais de dois mil quilômetros numa jangada, rumo ao Rio de Janeiro. Depois de 62 dias de viagem, foram recebidos por Getúlio Vargas. A história ganhou repercussão em todo o mundo e chamou a atenção do cineasta Orson Wells.
No fim dos anos 40, a urbanização chegou ao bairro, pois na gestão do prefeito Acrísio Moreira da Rocha foi construída a Avenida Abolição. Anos mais tarde, o então prefeito Cordeiro Neto, transferiu a vila de pescadores e as prostitutas para a zona do farol, para a praia do futuro. Isso porque a elite procurava disciplinar e higienizar um bairro de tradição popular.
No passado, a praia do Mucuripe era a preferida dos mais ricos que construíram ali seus prédios e mansões, afastando os mais humildes do lugar. Hoje, há um enorme contraste
entre os espaços nobres e a modéstia das casas proletárias convivendo no mesmo espaço. A luta de classes existe de forma camuflada nos olhares de desconfiança dos ricos e no assombro de crianças pobres que se perguntam qual a razão de tamanha desigualdade.
Hoje, o Mucuripe é um dos principais cartões postais de Fortaleza. No calçadão da praia, praticantes de cooper dividem espaço com os turistas que frequentam a Beira Mar. Mas, para além dos cenários turísticos, o bairro guarda a história dos jangadeiros, um povo digno e trabalhador com seu encanto pela sobrevivência. Uma gente digna e obreira que constrói uma história com o suor do trabalho e sobrevive num mundo adverso na aventurosa existência.
O desejo de estudar a história dos Jangadeiros de Fortaleza, apesar de um sonho antigo, somente começou a se concretizar em meu projeto de conclusão do curso de Jornalismo no Centro Universitário Estácio do Ceará. Acredito que somente nesse momento foi possível conciliar os instrumentos teóricos e metodológicos, adquiridos na graduação para realizar tal pesquisa. Começava então a ideia de produzir um Livro Reportagem que unisse a pesquisa acadêmica à minha vivência diária.
Colônia Z-8 - Histórias de Pescador é dar voz a homens ignorados pela sociedade por não ter um alto nível de escolaridade, mas que têm muito a ensinar à nossa sociedade. Passagens sobre a história do lugar são encontradas em antigos livros de História do Ceará, na literatura, em vários jornais e em reminiscências de memorialistas. A praia foi ainda inspiração de músicas e poemas e, recentemente, passou a contar com um acervo do bairro. E a figura do Jangadeiro merece total respeito e admiração.
Com coragem descomunal, saem pelo oceano, ainda de madrugada, tripulando tradicionais jangadas de pau piúba, embarcações simples, em busca da pesca, navegam até longe e cruzam com embarcações grandes. No entanto, além seus relatos em alto mar, a incessante busca por seus direitos torna o jangadeiro um símbolo de nossa cidade e cultura.
Como pesquisador, foi de suma importância reconhecer o meu profundo envolvimento com esse objeto de estudo com o qual mantenho estreitas relações de afinidade pessoal. As idas à praia do Mucuripe, chamada pela comunidade como Praia dos Beach Botes, me trazem memórias de infância sobre o local e as jangadas que tanto me fascinavam.
A história dos Pescadores que saíram de jangada em direção ao Rio de Janeiro para falar com o presidente me encanta desde os 11 anos de idade, quando realizei um passeio escolar ao Museu do Ceará, ocasião na qual fui apresentado a um pedaço da madeira da embarcação.
Neste Livro, além do que foi encontrado nas poucas fontes escritas, considerei igualmente importantes as incontáveis conversas informais, as frases de domínio, as observações de campo, as anotações das pequenas impressões e experiências dos jangadeiros, baseadas em relatos que ouvi durante toda minha vida.
Uma bela declaração de amor pelo mar e pela vida é o que se pode observar ao ler relatos ricos em detalhes acerca da vida dos jangadeiros no mar e suas conquistas na terra.
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