Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação.

Em minhas andanças na Livraria Cultura, encontrei quase escondido o incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação. Claro o título me despertou bastante curiosiodidade, também pela capa que achei bem interessante e pelo autor Haruki Murakami a qual não conhecia seu trabalho. 
Tsukuru Tasaki é um cara comum. Não tem nada de especial, absolutamente nada. Não tinha as melhores notas, não era particularmente bom em nada. No entanto, por algum motivo, ele fazia parte de um grupo de amigos no Ensino Médio. Nesse grupo havia um total de 5 pessoas, três meninos e duas meninas, e cada um deles, exceto Tsukuru, carregava no sobrenome o nome de uma cor. Bela coincidência, mas Tsukuru sempre se sentiu excluído por não ter uma cor no sobrenome. Ele era o Incolor. Mais uma vez, Tskuru não se destacava. Quando terminaram o Ensino Médio, Tsukuru mudou-se para Tóquio e seus amigos queridos continuaram na pequena cidade de Nagoia. Entretanto, seus amigos resolveram cortar amizade com Tsukuru, não queriam vê-lo nem forrado de ouro. Tsukuru não questionou a decisão do grupo, acabou aceitando essa cruel realidade. Poxa, esses eram os únicos amigos que Tsukuru tivera na vida. 

A premissa parece boba, não é? Pois parece sim, mas não é. Simplesmente um cara que foi forçado a perder os únicos amigos que conquistara e que passa o resto da vida sofrendo por conta disso. A  história  me empolgou bastante, mas Murakami é sem dúvidas um mestre absoluto (haha!) ele consegue transformar essa pequena fatalidade da vida de Tsukuru em arte. Gosto de comparar esse livro com o filme Melancolia do Lars Von Trier, é claro que as histórias são diferentes, mas existe algo em comum nos personagens. Ambos são pessoas iluminadas e apagadas ao mesmo tempo. No caso de Tsukuru, um homem comum, foi apagado por ter sido negado, por ter sofrido calado por tantos anos. E ao mesmo tempo, ele é iluminado pois nunca de fato desistiu da vida, no fundo sempre soube havia esperança. Assim como a personagem Justine, em Melancolia. Além disso, na minha opinião, o livro inteiro é uma melancolia, algo delicado, cercado por uma música levemente tocada no piano que te faz sofrer mas você não percebe. Aliás, essa música faz parte do livro tanto quanto o próprio Tsukuru. 

E após 16 anos de ter sido excluído do grupo, Tsukuru finalmente resolve ir questionar seus ex-amigos. Hey, lembra de mim? Por que me excluíram do grupo há 16 anos atrás? E com isso ele faz sua busca por respostas. Mas ele não descobre apenas o porquê da exclusão, ele descobre muitas coisas sobre ele mesmo. Amadurece, evolui. É um personagem rico em sentimentos, em percepções. Um cara comum, de fato. Só mais um cara que entra em um estação de trem, senta, e observa o movimento incessante de pessoas indo e vindo. 

A atmosfera dessa narrativa é fria. Em parte por causa dos pensamentos melancólicos do personagem, em parte pela calma música clássica que é tão belamente descrita que pude ouvi-la na minha imaginação diversas vezes. Em parte por conta do clima corriqueiro e cinza de Tóquio. Na boa, é uma narrativa muito bonita, muito bem escrita. O real significado não se encontra na resposta dos amigos de Tsukuru, mas sim na essência do personagem. Penso que nunca conheci nenhum outro personagem tão sincero e tão humano, simples, real. Todos nós temos nossas feridas, nossos momentos ruins, momentos incríveis, dúvidas, decepções, tudo isso e muito mais. Assim como Tsukuru. E apesar das bofetadas da vida, ele segue em frente. Assim como nós.

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@flahvioh